segunda-feira, 30 de maio de 2016

SOBRE A IDÉIA DE QUE CANTATA É UM TIPO DE CULTO

           
Já se tornou mais do que uma prática comum, a cultura “evangélica” das cantatas seja de natal ou de páscoa, e tantas outras que aparecem no mercado dos musicais estilo Broadway. O que mais me intriga sobre esta questão é que este gênero musical entrou em muitas de nossas igrejas substituindo os cultos até mesmo dominicais. A quem já diga sem peso na consciência que isto é um tipo de culto.

            Não entrarei no mérito das cantatas ou concertos musicais em si. Este é um assunto para outro momento. Apesar de que aprecio muitas obras musicais feitas com seriedade, conteúdo bíblico e com qualidade artística. A expressão cultural e artística faz parte das coisas boas que Deus nos deu para a Sua própria glória e para o nosso deleite pessoal.  

            Mas em relação ao culto, por favor, é de extrema importância que você entenda algo muito simples. Cantata não é culto solene. Não confunda as duas coisas. São duas atividades diferentes com propósitos diferentes. E vou dar as devidas razões aqui no presente artigo.

            Inicialmente vamos a definição de cantata. Ao contrário do que muitos pensam, cantata não é um gênero novo no mercado da música. As cantatas têm sua ascensão no período barroco (século XVI) com Johan Sebastian Bach. Provavelmente ele tenha composto mais de duzentas cantatas ao longo de sua carreira.

                As cantatas originalmente tinham o propósito de contarem uma história de cunho bíblico ou religioso como por exemplo a 32ª cantata, ou, conhecida como BWV 147ª intitulada “Herz und Mund und Tat und Leben” (Corações e boca, ações e vida) dividida em dez movimentos, ou seja, cada movimento era uma cena ou um capítulo desta história. As mesmas eram compostas para pequenos coros e uma pequena orquestra de câmara (com 2 violinos, 2 violas, 2 cellos, 1 baixo, 2 oboés, 2 flautas, as vezes, 1 trompete 1 trompa, orgão e 1 cravo).

            A partir do período romântico (seculo XIX e inicio do séc. XX), agora usando grandes orquestras e coros, os compositores passaram a usar este mesmo gênero para compor sinfonias e óperas com conteúdo profano, irreverente e satirizado como é o caso da famosa e intrigante peça Carmina Burana(Canções de Beuern ou de Benediktbeuern), musicalizado por Carl Orff em 1936 sendo esta um conjunto de poemas dramatizados dividindo-se em 5 grandes temas – cantos satírico moral; cantos de primavera e de amor; cantos orgiásticos e festivo, Carmina a divina; cantos moralístico sacro e por fim, Ludi jogos religiosos. 

            Ao longo dos anos, as cantatas deixam de ter sua conotação sacra se transformando em grandes novelas musicalizadas, em grandes espetáculos com temas totalmente secularizados e de cunho inteiramente comercial. Diga-se de passagem, as cantatas ou musicais  evangélicos tiveram uma grande influência deste gênero agora pós modernizado. 

             Estes musicais passam a utilizar os mesmos recursos técnicos, os mesmos estilos e referências na construção dos textos, a métrica, melodias, estrutura harmônica, os mesmos estilos musicais aplicados nos grandes espetáculos do mundo a fora sendo necessário que os seus cantores realizem performances com a gesticulação de sua face, as vezes até mesmo coreografias sincronizadas com a dinâmica e o conteúdo da canção. Na verdade, os grandes musicais teatralizados do mundo contemporâneo que são hoje reproduzidos com objetivos comerciais são uma reprodução clara das clássicas óperas e musicais antigos de tabernas como dos grandes cabarés dos séculos passados. Em nada tem a ver com as cantatas originais de J. Sebastian Bach.  

            Sendo assim, já deu para perceber que não cabe a ideia de se produzir uma cantata em um culto solene e muito menos afirmar que cantata é um tipo de culto solene. O propósito da cantata é inteiramente o concerto, o entretenimento, a diversão ao público. O culto solene em uma perspectiva bíblica não tem o objetivo de entreter pessoas, mas, é um momento estritamente solene, reverente, um ato de adoração pública de forma Teocêntrica (adoração somente ao Deus Trino). 

            Ao contrário do que se propõe em uma dramatização musical, o culto deve ter o seu caráter solene, autoritativo, religioso, didático, simples e objetivo. Não há espaço no culto para concertos, shows, apresentações, solos individuais e com destaques a voz ou a instrumentos. Os cânticos e hinos devem ser apenas cantados por toda a congregação. E mais, devem apenas cantar o que está nas Escrituras. Isto caracteriza um culto a Deus conforme a Palavra de Deus.

             Há de se lembrar que cada parte do culto e a suas atividades na adoração a Deus são determinadas nas Escrituras. Os reformadores chamavam isto de Principio Regulador do Culto, ou seja, Como a Escritura nos diz o lugar (um local apropriado), o momento (O dia do Senhor – o domingo), a ordem (que chamamos de liturgia) e as atividades (que são os elementos de culto)? Se a Bíblia não menciona qualquer outra atividade ou ordem, significa que aquilo não faz parte do culto solene a Deus.

            Por exemplo, o que se deve fazer no culto. A Bíblia só menciona de forma clara e objetiva os seguintes elementos: 1) leitura pública da Palavra; 2) orações proferidas; 3) orações cantadas (a musica); 4) a pregação da Palavra; 5) a ministração dos sacramentos e, 6) o ofertório. Estes são os elementos da culto. Não há danças, não se menciona dramatização ou o teatro, a Bíblia não fala de apresentações ou concertos musicais, não fala de jograis, declamação de poesias, e, muito menos de cantatas.

            É bom que se lembre. Progressivamente a ideia de um culto solene, simples, reverente, limitado apenas ao que a Escritura ordena está sendo mudado na mente desta atual geração "evangélica". Estamos perdendo a noção de limites em relação ao uso da música no culto. Os cristãos de hoje, seja por ignorância intelectual, cultural e bíblica não conseguem distinguir quando a música deixa de ser uma expressão artística e se torna um elemento de culto apenas a serviço da adoração pública a Deus.

            A exemplo disto, em dezembro de 2015 a famosa igreja Hillsong (de Londres) reproduziu um musical de natal intitulado “This is Christmas! (Isto é natal). A primeira vista estava certo que era um número da Broadway tamanha era a sensualidade e o erotismo na performance dos músicos dançarinos e os cantores especialmente na música “SilentNight”.

            Há muito tempo venho dizendo que a Hillsong como outras (nem todas) megas igrejas são um modelo de "igreja emergente", ou seja, uma "igreja" que deseja se ver livre de rótulos teológicos, litúrgicos e denominacionais. Claramente um modelo que propõe uma estrutura relativista e que estimula uma mentalidade pluralista.

            A crise da falta de crescimento numérico de muitas de nossas congregações locais tem feito com que bajulemos esse tipo de modelo contemporâneo de “adoração”. Um modelo que corrompe os princípios bíblicos de como Deus quer ser cultuado.


Vamos nos atentar para o grande perigo que corremos quando profanamos aquilo que deve ser tratado com muita seriedade, entendimento e piedade. Receio que pulamos de cabeça no movimento de adoração contemporânea como que meninos desavisados e eufóricos. Só esqueceram que este movimento é como um rio turvo. Um rio muito escuro e perigoso. Ninguém sabe o que há no fundo deste rio. Igrejas que estão pulando nestas águas turvas estão cometendo suicídio espiritual. 

sexta-feira, 27 de maio de 2016

MÚSICA NA PERSPECTIVA REFORMADA - O CRIVO DA ESCRITURA

Este é o segundo artigo da série MÚSICA NA PERSPECTIVA REFORMADA onde apresento de forma simples e objetiva os critérios observados pelos reformadores em relação a música como expressão artística no seu dia dia e principalmente o seu uso no culto solene. 

O primeiro critério analisado no artigo anterior foi que todas as músicas deveriam passar pelo crivo da glória de Deus. Em outras palavras, a música seja na sua estética, forma e principalmente seu conteúdo devem expressar a beleza, a santidade e a majestade de Deus. Nenhuma outra intenção deve conduzir a mente de quem faz como de quem ouve musica senão o princípio de que tudo deve ser feito para glorificar a Deus. 

O segundo ponto a ser observado no presente artigo é: tudo deve ser feito com base e fundamentação estrita da Escrituras. Ou seja, não se deve falar, escrever, retratar, pintar, esculpir, cantar qualquer coisa sem o devido crivo da Bíblia. Não se deve, por exemplo musicalizar qualquer ideia, frase, ou texto que não esteja ao menos de acordo com a Escritura e todas as suas doutrinas expostas pelo próprio Deus em Sua revelação. Isto independe de ser ou não usado no culto solene.

A primeira coisa que os reformadores tinham em mente era que, em todas as esferas da vida, a consciência do homem deve ser dominada somente pela Palavra de Deus. Não seria diferente com relação a música. Se um musico, cantor, compositor, poeta, ou, qualquer pessoas que se deleitasse apreciando uma canção não a colocasse no crivo da Escritura, a sua música como sua atitude não glorifica a Deus. 

No bom sentido da expressão, os músicos e compositores do período da reforma, abusaram de todos os recursos que a Bíblia poderia lhes oferecer quanto ao seu conteúdo. Realmente prezaram em colocar em prática o que o apóstolo Paulo por duas vezes ordenou primeiro em Colossenses 3: 16 e também em Efésios 5: 19. 

Quase 1450 anos antes dos reformadores, o apóstolo Paulo foi quem deixou prescrito de forma mais explicita o uso correto da música seja no cotidiano, mas em particular, no culto solene. Foi ele mesmo que disse que deveríamos em nossas conversas e canções louvar a Deus com os salmos, hinos e os cânticos espirituais. Este princípio foi muito bem resgatado por nossos pais na reforma através do lema sola scriptura (Somente a Escritura). 

Mais precisamente, os reformadores restauraram para adoração pública o saudável hábito de cantar os salmos já que didaticamente os mesmos foram por inspiração divina escritos não apenas para a sua leitura e meditação diária ou litúrgica, mas o saltério também era o seu hinário oficial no cultos. 

O hábito de cantar os salmos inspirados nunca foi uma novidade para os reformadores. Não é preciso mencionar o fato de que a igreja primitiva, por ter sido influenciada pela tradição sinagogal da religião judaica cantavam os salmos como outros cânticos do Antigo Testamento. Mas, é importante frisar que nem tudo estava perdido no período medieval. A igreja daquela época em seu excessivo e idólatra mas, providencial zelo mantiveram a tradição de cantar os textos sapienciais e poéticos da Escritura. 

Podemos assim dizer que por esta tradição histórica desde a igreja antiga e medieval, foi que Lutero não jogou na lata do lixo toda esta bagagem musical sacra. Obviamente, os cânticos direcionados aos santos e a Maria como intercessora, foram abandonados imediatamente pelos protestantes espalhados por toda Europa ocidental. Lutero como outros compositores, assimilam uma fórmula mais simplificada e popular de entoarem seus hinos. O canto congregacional está de volta como o cumprimento a ordenança bíblica de cantar os salmos, hinos e cânticos espirituais.  

Mas, por que cantar as escrituras? Muito simples a resposta. João Calvino afirmou que a ordenança de se reunir no dia do Senhor não foi com o intuito de entreter pessoas, mas que, Deus deseja que o culto seja útil para todo o seu povo, e que, todos fossem instruídos a usarem a inteligencia em tudo que fosse ordenado para sua edificação.[1] Em outras palavras, os reformadores entendiam que era irrevogável o uso do entendimento, e o exame de consciência por meio da mensagem transmitida através da letra de uma música. 

Em suma, a Escritura deve ser comunicada a nossa consciência por atividades que diretamente lidam com a linguagem escrita (meio pelo qual foi registrado a revelação de Deus ao seu povo). Por isso, os elementos de culto são a oração, a leitura publica da Bíblia, o canto congregacional, ministração dos sacramentos e a pregação. Calvino preferia resumir estes elementos em três grupos básicos: as orações públicas, a pregação da Palavra e os sacramentos. Em relação as orações, se dividiam em dois grupos: Oração proferida e as orações cantadas. 

A música como elemento de culto é o meio pelo qual Deus nos envolve com as verdades de Sua Palavra. O culto racional (Rm 12: 1) deve ser a adoração consciente, inteligível, aquela que nos conduz a razão sobre o que estamos cantando e por que estamos cantando. A razão e a sobriedade devem fazer parte de uma adoração que nos leve a entender e a amar a Palavra de Deus. Sendo assim, para os reformadores, os salmos eram os textos sagrados mais adequado para envolver didaticamente a congregação a estas verdades. 

Não foi atoa  que João Calvino, quando pastoreou por 3 anos a igreja de Estrasburgo se encantou com a coletânea de mais de 30 salmos metrificados que fora elaborado em sua maior parte por Clement Marot. Quando retornou a Genebra para dar continuidade ao processo de reforma, decidiu adotar o mesmo hinário que posteriormente ficou conhecido como 'Saltério de Genebra'. Obviamente, Calvino logrou esta honrosa tarefa a Theodoro de Beza, Clement Marot, Louis Bourgeois e posteriormente Pierre Davantés que completou toda a coleção com mais de 83 salmos em melodias originais.  

Sendo assim, a preocupação dos reformadores não era outra senão que os hinos e cânticos fossem entoados com o intuito de serem orações proferidas diretamente dos textos inspirados (que em sua grande maioria eram os salmos metrificados). O próprio reformador João Calvino é quem mesmo disse que - é preciso haver canções não somente honestas, mas também santas, que como aguilhões nos incite a orar e a louvar a Deus e a meditar nas suas obras para amar, honrar e glori­ficá-Lo.[2]

Infelizmente, é muito comum os nossos pais reformados serem acusados de radicalismo e legalismo quanto ao uso da música no culto solene. Esse não era meramente um zelo excessivo ou legalista destes homens, mas, uma intensa devoção a Cristo e a sua Palavra de modo que desejavam expressar todo o seu amor pela Escritura e pelo seu Autor. Em suma, eles amavam a Palavra do Senhor de maneira que, em todas as atividades realizadas no culto deveriam explicitamente usar a Bíblia. 

Eles entendiam que A Bíblia norteava por meio do Principio Regulador do Culto (a doutrinas que regulam o modo de cultuar a Deus na Bíblia) o modo como a música deveria ser aplicada corretamente na adoração pública. E neste ponto, ao contrário do seu uso no cotidiano, no culto a música está restrita apenas ao canto coletivo e do conteúdo da Palavra de Deus. Em suma, o legado que os reformadores nos deixaram foi: NO CULTO TODOS DEVEM APENAS CANTAR AS ESCRITURAS. 

Em breve próximo artigo da série. 




[1] Prefácio de Calvino da introdução ao Saltério de Genebra – 10 de junho de 1543. 
[2] Idém. 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

MÚSICA NA PERSPECTIVA REFORMADA - O CRIVO DA GLÓRIA DE DEUS

Pouco se ouve falar sobre o que os reformadores pensavam e aplicavam em seu cotidiano como também no culto solene em relação à música. Erroneamente, muitos pensam que os reformadores eram avessos à arte e à música. 

Ao contrário, eram sensíveis e dedicados à produção de riquíssimas obras, em especial, à música com alto nível e qualidade em seu conteúdo e performance. Salomão Franck, mesmo não sendo um reformado estrito e sim um luterano (1659 - 1725), um jurista em Weimar (Alemanha), mas também um homem dado a poesia, foi ele o autor de grande parte dos textos originais da mais famosa cantata de J. Sebastian Bach intitulada "Corações, boca, ações e vida" (BWV 147). 

Martin Janus, que também fora contemporâneo de Bach e Franck, foi pastor, poeta, músico e diretor de música de diversas igrejas protestantes, dentre estas, muitas calvinistas. Para nossa surpresa foi ele o autor do texto original da mais famosa música da cantata: "Jesus, alegria dos homens" (10º movimento desta cantata). Diante disto, Como alguém pode afirmar que os reformados não eram sensíveis a arte?

O exemplo destes dois homens não só mostram que eram hábeis, mas também zelosos e criteriosos no uso desta ferramenta poderosa que age diretamente na consciência do homem. Eles sabiam que a mente humana não poderia ser contaminada com pensamentos e conceitos frívolos e mundanos. A única mensagem que deveria reinar sobre a consciência de uma pessoa cristã era a Palavra de Deus. Concernente à música, o próprio reformador João Calvino  disse que "existe raramente no mundo qualquer coisa que seja mais capaz de virar e corromper os homens do seu caminho e da sua moral." 

Por isso, me proponho de forma simples e objetiva expor uma série intitulada - MÚSICA NA PERSPECTIVA REFORMADA apontando alguns critérios que eram e ainda são claros e muito bem explicitados na vida e  devoção dos reformadores, como também na de seus sucessores ao longo de pelo menos três séculos (desde o século XVI até o final do século XVIII). 

Se somos os herdeiros diretos deste sistema de vida e de sua teologia é necessário, portanto, conhecer a música em sua perspectiva reformada. Muitos que se declaram calvinistas ou presbiterianos não tem conhecimento suficiente de como deveríamos aplicar este poderosíssimo recurso de forma correta e bíblica no cotidiano e principalmente no culto solene. Sendo assim: 

O primeiro ponto que percebo ser claramente um critério inegociável é: o princípio de que tudo deve ser feito para a glória de Deus. Não foi mera coincidência que os ‘divines’ da assembleia de Westminster colocaram como primeira questão a seguinte pergunta: QUAL É O FIM PRINCIPAL DO HOMEM?

Com a devida precisão e profundidade a resposta é muito simples: o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Veja que não é algo muito difícil de entender. Em geral, a preocupação dos reformadores era ressaltar em seus hinos e cânticos a beleza e a santidade do Senhor. Lembrar da bondade e das misericórdias do Senhor como também a sua grandeza, o seu poder e a sua majestade. 

Os artistas que por convicção eram reformados tinham em suas obras o registro notório de apenas um tema: a glória de Deus. Como faziam isto? Simples!  Basicamente, o que eles tinham em mente não era retratar, pintar ou esculpir  a Trindade. Aliás, isto foi muito explorado pela visão romanista na arquitetura, pintura e escultura. Um artista reformado sabia que deveria estar atento em não quebrar o primeiro e segundo mandamentos. 

Por exemplo, um pintor retratava em suas telas cenas do cotidiano como: família ao redor da mesa no momento da refeição, as boas conversas, as paisagens naturais, as plantações, as colheitas, mães cuidando de seus filhos, o Dia do Senhor, ou seja, tudo isto tinha um único objetivo: A gratidão. O tema central de todas as expressões artísticas era o contentamento com a providência e a graça de Deus.

Com respeito ao uso da música no cotidiano, os reformadores, não desprezavam a sua diversidade e riqueza. Na verdade, eles eram bem atentos ao espírito de sua época que por sua vez era influenciado pelo Renascentismo e  Barroco. Os reformadores não deixariam de ouvir uma boa música ‘secular’ ou popular se, em toda a sua estrutura melódica, estética e  conteúdo, glorificasse a Deus e fosse proveitoso à sua santificação, se esta música o levasse ao regozijo não de suas vontades pecaminosas, mas, o gozo de uma alma grata, satisfeita e contente com o cuidado de Deus em sua vida.

Mais precisamente, este é um princípio que nos reporta ao conteúdo dos cânticos e hinos que deveríamos cantar no culto solene. De forma contundente a minha afirmação sobre este ponto é muito simples, porém de suma importância – Os hinos e os cânticos espirituais devem em toda a sua temática nos remeter de forma direta e objetiva à glória de Deus,  Sua majestade,  Seus atributos,  Sua benevolência e graça para conosco, Sua justiça e todas às Suas obras.  

Por exemplo, toda a temática de uma música deve ser conduzida por este princípio. Ou seja, um hino que fale de provações o foco não é o sofrimento, mas a glória de Deus, porque o que nos consola diante de uma oração cantada não é falar do sofrimento em si, mas nos gloriarmos na esperança da glória de Deus (Romanos 5: 2).

Hinos e cânticos que falam de qualquer assunto, mesmo que mencionem textos da Escritura ou que nos reportam a qualquer contexto, história e doutrina que estejam na Bíblia, mas não lançam nossos pensamentos e coração à glória de Deus, não devem fazer parte da nossa adoração pública, e diria até mesmo que tais músicas não deveriam fazer parte de nosso gosto pessoal. 

Portanto, isto cabe em todos os outros casos. Se cantarmos salmos, hinos e cânticos que mencionem qualquer doutrina da Escritura, tais letras devem sempre fazer com que nós falemos, oremos e pensemos sobre a glória de Deus. Aliás, me adianto em dizer que os reformadores eram precavidos quanto a este ponto. Para evitar este problema, eles apenas cantavam a Escritura. Não há sequer qualquer texto da Escritura que não nos reporte de forma direta à glória de Deus e o louvor a Ele. Por isso, se desejamos evitar as heresias e as profanações em nossas músicas, apenas devemos cantar o que está na Escritura. 

Em breve próximo artigo.